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Mundial de Futebol de PC feminino é anunciado

Mulheres competem em equipes mistas no Brasil

Mariana Damasio faz gol. Video: Ande

Por Paula Veiga

A International Federation of CP Football (IFCPF), entidade que comanda e regula  o Futebol de PC (Paralisia Cerebral) no âmbito mundial, anunciou que em 2020 haverá a primeira Copa do Mundo de Futebol PC feminina. A competição será em junho, em Sant Cugat del Vallès, em Barcelona, na Espanha, junto com o Campeonato das Nações. O estádio Jaume Tubau será o local oficial da competição. O evento tem como objetivo levar ao próximo nível o desenvolvimento da modalidade. A Argentina, Dinamarca, Espanha e Holanda confirmaram a participação na Copa, outros países ainda darão a resposta.

 

No encontro, também ocorrerá a reunião EU Erasmus + Kickstart CP Football (Female) e a consulta entre membros da IFCPF sobre o desenvolvimento feminino do Futebol PC. Na mesma ocasião o Campeonato das Nações ocorrerá, com 16 times na disputa de vaga no Campeonato Mundial e na Copa do Mundo de 2022. As inscrições para participação na Copa feminina podem ser feitas até o dia 18 de dezembro deste ano. Como na maioria dos países, o Brasil só têm seleção masculina e times mistos de Futebol PC.

 

O Brasil não participará da competição, no entanto, não quer dizer que não há jogadoras de alto-performance no país. As mulheres podem treinar e competir no Brasil em times mistos. Mariana Damasio, de 23 anos, é a primeira mulher em uma competição brasileira da modalidade. A atleta começou a treinar em março de 2017, em uma busca pela internet encontrou a equipe perto de onde morava, em Belo Horizonte. Em setembro do mesmo ano, foi ao Campeonato Brasileiro de Futebol PC, na segunda divisão da Associação Nacional de Desporto para Deficientes (Ande), em São Paulo.

 

A atleta afirma que apesar do processo ser de transição, o time misto expõe a menina a um risco de lesão, como aconteceu com ela. A lesão de Mariana foi muscular por sobrecarga no joelho. Após o diagnóstico realizado por um ortopedista esportivo especialista em joelho, a atleta recebeu a recomendação de interromper a prática. Segundo ela, o médico disse que as circunstâncias do time misto não eram ideias, pois competia um esporte de contato contra homens caracteristicamente mais fortes. A decisão de Mariana foi um somatório da lesão com a falta de perspectiva de ter outras meninas e, após sofrer o ferimento, passou a treinar tênis de mesa, um recomeço. Mariana, hoje jogadora da Associação Mineira do Paradesporto, almeja se tornar profissional na modalidade paralímpica.

 

- Eu tento me manter tranquila para seguir nesse processo, dando um passo por vez para não criar uma expectativa muito grande. O caminho de recuperação foi difícil. Em determinado momento eu não acreditava que pudesse voltar ao esporte. Descobrir o tênis de mesa é um presente, a retomada de um sonho. Arrisco dizer que eu nunca me senti tão confortável e feliz na prática de um esporte como agora.

 

Mariana acredita que é importante a participação de mulheres em competições de nível internacional, porém a atleta afirma que a Copa feminina é apenas um primeiro passo que não concretiza nada. É necessário, na opinião de Mariana, as condições da modalidade mudarem para o espaço feminino se tornar real. Nas palavras dela, para o Futebol PC com mulheres ser uma realidade no Brasil falta primeiro o incentivo, com a tentativa de captar as meninas jovens nas escolas, em seguida, acabar com os times mistos que, segundo ela, atrapalham a criação da categoria feminina. 

 

No Campeonato Brasileiro de Futebol de PC, a atleta foi como membro da comissão técnica. O regulamento era masculino e, por isso, não teria a oportunidade de jogar. No entanto, ao chegar lá, técnicos e diretores da Ande fizeram uma votação para que ela fizesse a classificação funcional e disputasse o campeonato. Aceitou o desafio, apesar do desconforto de jogar em um time misto.

- É inegável a desvantagem, fisiologicamente existem diferenças e eu as sentia bastante. Era árduo entrar numa dividida - quando dois jogadores disputam a bola -, várias vezes eu tinha medo de acabar me machucando e a gente sabe que na hora da competição ninguém alivia para ninguém. Eu percebia que não conseguia dar o meu melhor em campo por todas essas questões de força muscular e resistência, que acabavam sendo vantagens aos homens.

 

 

 

O classificador internacional Agnaldo Bertucci, antigo médico da seleção brasileira de Futebol de PC, comenta que as desvantagens de mulheres na categoria masculina são decorrentes da própria estrutura corporal, o que não significa impossibilidade de competir.

 

A Copa não é a única tentativa de introduzir as mulheres no desporto. A IFCPF, em homenagem ao Dia do Paralisado Cerebral, 6 de outubro, começou a campanha #MyGoal, com circulação nas redes sociais Instagram, Facebook e Twitter. De acordo com o IFCPF, a finalidade do movimento é garantir que crianças e adultos com paralisia cerebral tenham os mesmos direitos, acesso e oportunidades do qualquer outra pessoa na sociedade. 

 

Atletas de todas as idades, familiares e fãs publicaram vídeos que foram compartilhados em diferentes mídias do IFCPF, que contavam qual era o objetivo de cada um. Entre as diversas falas nas redes, atletas mulheres expressaram a vontade de jogar, de ter espaço igualitário dentro do Futebol PC agora e no futuro. A embaixadora feminina da federação na Europa, Jara Brokking, de 12 anos, afirma em vídeo que seu sonho é jogar nas Paralimpíadas. Já o brasileiro Igor Monteiro, árbitro internacional do IFCPF, diz no Instagram que espera ter mulheres árbitras. 

 

Outra iniciativa realizada pelo IFCPF em 2019 é o CP Football (Camp Female). Na edição da Holanda, participaram 22 atletas mulheres da Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda e Japão. De 8 a 12 de outubro a Austrália realizou a versão destinada a Ásia e a Oceânia.

 

De acordo com Paulo Cruz, representante brasileiro da IFCPF, a participação de Mariana no campeonato influenciou a formação de seleções femininas, ainda em fase embrionária na maioria dos países. Também afirma que o processo é lento, precisa ser divulgado para atrair mulheres com paralisia cerebral a participar das atividades que são organizadas em alguns países:

 

- Ter Mariana Damásio jogando o Campeonato Brasileiro da segunda divisão foi um marco para futuras iniciativas por parte da Ande, que rege a modalidade no Brasil. Entendo que é uma longa jornada, mas que, felizmente, já teve um início e, no que depender da IFCPF, será em breve uma realidade no mundo do desporto para pessoas com deficiência - diz Cruz.

Paulo Cruz declara que, após as regras permitirem homens e mulheres a jogarem nas mesmas equipes em competições oficiais, a ideia é proporcionar encontros em todo o mundo com a meta de desenvolver o Futebol de PC feminino. O representante diz que foi criado um grupo para este fim na IFCPF, com participantes de vários continentes. No site oficial da federação, a regra da mistura de gêneros é referida como uma medida provisória até existirem atletas suficientes para terem times e competições de categoria feminina.

 

O técnico Paulo Cabral, da seleção brasileira de Futebol de PC, acrescenta que depois da presença da Mariana nos campos, outras mulheres tiveram a chance de disputar em competições nacionais dentro de times mistos. Na categoria masculina, a seleção tem conquistado medalhas como o bronze nos Jogos Paralímpicos de 2016, no Brasil, e no mundial deste ano, na Espanha, e o ouro na última edição do Parapan-Americano, no Peru.​

 

Em uma decisão do Comitê Paralímpico Internacional (IPC) o Futebol PC foi retirado do programa paralímpico, o que resulta na ausência da modalidade nos Jogos Paralímpicos de 2020 e de 2024. O IFCPF tentou reintroduzir o Futebol de PC na edição seguinte mas não conseguiu. Um dos motivos para a remoção, segundo Paulo Cruz, foi a falta da presença feminina.

 

- Após a modalidade ter sido retirada do programa dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, a IFCPF focou toda a sua atenção nos aspectos que foram determinantes para esta decisão. Houve uma reformulação significativa no processo de classificação funcional, comprovação documentada e aumento do número de países que desenvolvem o Futebol de PC, realização de cursos em todos os continentes visando a implementação do esporte, atualização das regras, introdução nas normas da possibilidade de haver equipes mistas em relação a gênero.

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Mariana Damasio comemora. Video: Igor Goulart - Ande

Mariana Damasio treina tênis de mesa. Vídeo: Academia TMMinas

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Mariana Damasio ao lado de vice-presidente da ANDE, Sebastião da Costa. Foto: Igor Goulart - ANDE

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